sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

De outros carnavais

Eu me cerquei de silêncio pra nunca mais ouvir teu nome. Eu já matei qualquer fome, eu já brinquei carnaval. E o mal que me consome eu conservei no sal. Por bem, eu fui homem.

Eu virei minha cara, eu parei para tudo, acalmar a tarde. Eu mudei, e o mundo sempre morde.
Mudo, matar de mim tudo que nasce. Minha outra face ainda arde.

Eu me contentei com sorriso, eu fiz rir, eu quis do outro a qualquer custo, e justo quando estava pra partir, ganhei. Apartei de mim as outras partes, eu sei que assusto se olhar demais. Eu não sei mais o que quero falar.

E o que me chama à noite, nêga, me carrega.
E se me chama à noite, nêga, se encarrega.
E se a chama foi-se, nêga, não se entrega.
Me deixa uma noite, nêga, não me nega.

Eu já dancei batucada, nada demais, a cada fossa nova que me provoque, enrolo, gosto mais, nada me faz desistir do choque, não me toque, você não engole o que me satisfaz.

Carreguei em mim o cheiro dos povos, voraz massa que consome os dias, de amargar tantas longas demoras. Não sou eu, não sou um, fui embora. Não sou nenhum portador de alegrias. Eu desperdicei meu brilho, fui filho do fim do mundo, no fundo dos olhos eu colho tudo que não me dizem. Reluz em outros o que escondo em mim, assim eu finjo que me conduzem. E aos que me fogem eu digo sim.

Viver para evitar alguém
Também é morrer sem se separar.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Das elegâncias desperdiçadas

O horário da elegância já passou há algum tempo. Eu sei por que tudo agora é névoa e náusea, eu olho pro outro lado evitando a fumaça, tudo em mim é a necessidade de regurgitar, tomar uma coca-cola e desabar na cama. Talvez não agora. Os copos ainda não se esvaziaram, os assuntos interrompidos ainda não foram todos retomados, os dedos tamborilam na mesa, a garganta adormece, as extremidades formigam, e ela me olha. Eu preciso bolar um estratagema, para ir ao banheiro, expulsar o que precisa sair, e ir embora. Preciso ir embora sem que este ato dê tanto trabalho. Mas os olhos dela acompanham meu caminho. Eu já não participo da conversa, eu já não esvazio meu copo tanto como no começo da noite, eu parei de encher os copos de todos na mesa. Eu apalpo meus bolsos e me certifico de que tenho todo o necessário. Eu olho em volta e verifico se ninguém vai me atrapalhar. Eu me levanto e vou até o banheiro, eu entro no corredor até a última porta, eu entro na cabine, eu prendo a porta com o pé porque não tem tranca. Eu me ajoelho prendendo a porta com a coxa, eu enfio o dedo na garganta, eu tento não fazer barulho, eu deixo de me preocupar, eu levanto pálido e latejante. Eu tenho um chiclete no bolso, justamente para este fim. Eu dou descarga duas vezes.

Eu me olho no espelho, eu jogo água no rosto, eu lavo minha boca, eu lavo minhas mãos. A noite agora já fugiu ao meu controle.

Eu saio cabisbaixo, ela me aguarda sutilmente na saída do corredor, eu levanto os olhos, que encontram os dela, eu não digo nada, eu não poderia, ou conseguiria.

Eu mastigo o chiclete mais forte, e num impulso, eu a puxo pelo pulso pra dentro da cabine mais próxima, o cheiro do cabelo dela faz a náusea voltar. Não há pé que feche a porta, a perna que se abre, o gemido que parte, dissimulado, que se encerra em mim, que nada insinuo, que nada ensino. Sinalizo o fim antes do desfecho, abro a porta e a deixo.

Eu fujo à francesa, sujo, a tristeza não me encontra, nem me apavora. Fui embora.

Eu chego no apartamento, entro lentamente, o tormento novamente de evitar qualquer ruído. Caído, no chão do banheiro, eu primeiro expulso o excesso, depois tento escrever. Sem sucesso.