Acabei de encontrá-la no elevador. A menina bonitinha do 4º andar. Eu entrei no elevador no subsolo – estacionamento. Ele parou no térreo e eu fiquei puto, porque detesto dividir espaço. Eu estava recostado na quina, entre o espelho e a parede lateral, e foi tão de repente que nem tive tempo de acertar a postura. Ela parou bem perto de mim e me disse oi pertinho do meu rosto. Foi tão de repente que eu nem tive tempo de engrossar a voz, e falei um oi baixinho e com a voz meio fina.
Eu não a via há meses, desde que dividimos o elevador pela última vez. Eram seis e meia da manhã, eu estava indo pro trabalho, naquele estado de torpor meio letárgico das horas acinzentadas. Ela entrou sorridente, e disse “Oi, há quanto tempo não nos víamos”. (só havíamos nos cruzado umas duas vezes). Eu, assustado com a pergunta em si, espantado pela sua alegria e desenvoltura, e ainda dopado de sono, não consegui dizer nada espirituoso.
Mas hoje,à noite, véspera de feriado, eu estou no auge das minhas faculdades mentais, e mesmo assim não consegui dizer nada que prestasse, nem ela puxou nenhum assunto – não que ela devesse.
A subida dos quatro andares foi rápida demais.
A porta do elevador se abriu, e ela – ainda pertinho do meu rosto, disse tchau, e nos olhamos bem nos olhos um do outro. Apesar da tensão quase palpável no cubículo, aquela atração que se sente e se espera recíproca, foi só o que dissemos, um oi e tchau meio tímidos de se estenderem como gostariam. Eu a vi caminhando até a porta de seu apartamento, a olhei de cima a baixo, e gostei do que vi. Quis que ela olhasse pra trás, pra eu me sentir num filme, mas ela não o fez.
Subi o restante dos andares me odiando menos do que pensei que fosse. Cheguei em casa meio tonto, abri uma cerveja, abri a janela, acendi um cigarro, e estou aqui, tentando encontrar a ironia da vida que sempre me escapa. Quando e se a encontrar, vou sorrir aquele sorriso metade satisfeito, metade dolorido, de quem entendeu ou aceitou.
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Era o segundo ano de faculdade, e todo mundo sabe como é isso. Gente que a gente não conhece há tanto tempo assim, tempo que a gente acha que é pra sempre, e sempre aquele sensação esquisita de que se está fingindo que sente ou é o que não é. Uma festa na chácara de alguém, todo mundo sabe bem, todo lugar tem.
Aquela hora intermediária, quando as pessoas começam a ficar bêbadas, as conversas começam a ficar diferentes, e a gente começa a falar mais do que o normal. E há sempre aquele casal.
Ele está perto da churrasqueira, falando com as pessoas. Ela está por aí também. Ela vem e o abraça, meio do nada, eles se afastam um pouco. Ela quase nunca faz isso, abraçar desse jeito, e ele gosta. Gosta do cheiro do cabelo dela quando ficam assim, a cabeça dela encostada em seu ombro. Gosta da cintura fina dela, e de como o corpo dela, magro como um passarinho, é envolvido pelo peito largo dele. O abraço se demora, ele suspira fundo, e apertando ela um pouquinho mais forte, diz “ Quando você me abraça assim, do nada, eu gosto mais do mundo.” Ela aperta um pouco mais o abraço, ou nem isso, apenas se demora um pouquinho mais do que pretendia. E pensa “Eu bem que poderia encontrar um jeito de gostar dele de verdade”.
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Quando eu a vi, novamente, depois de tanto tempo, sabendo de tudo, tocou Say Goodbye na minha cabeça. E isto foi o mais próximo que chegamos de um romance.